Os desafios de ser professor no século XXI
Como lidar com o acúmulo de informação, a velocidade da tecnologia, a transformação constante da prática pedagógica e descobrir o papel do professor no século XXI? Essas perguntas deram a tônica do segundo dia do 4º Encontro Internacional Rio Mídia.
Fábio Aranha
O que é ser professor no século XXI? Essa é uma pergunta para a qual não há resposta fácil. Mas uma coisa é certa, o nosso tempo, caracterizado por mudanças constantes e velozes, traz desafios para o professor e o estimula a repensar continuamente sua prática. Esta foi a tônica das palestras realizadas na segunda mesa-redonda do segundo dia de debate do 4º Encontro Internacional RIO MÍDIA, que aconteceu no dia 28 de agosto, no Auditório da Casa do Comércio, no Rio de Janeiro.
Para Ana Smolka, professora da Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas (Unicamp), há um intenso debate que envolve uma diversidade de argumentos e de pontos de vista de como ver a interlocução do professor. Mas algumas questões são preponderantes, como as dimensões da produção de conhecimento, as suas condições de trabalho e vida, além das contradições de sua experiência individual, social e histórica.
Smolka diz que a rapidez das mudanças, no mundo de hoje, é quase sufocante e é preciso descobrir como lidar com o acúmulo de conhecimento. O professor do século XXI tem incorporada toda a produção intelectual dos séculos passados e seu desafio é se formar e transformar sua prática constantemente, levando em conta as produções culturais e históricas atuais. Para ela, é preciso debater qual é o papel do professor na relação de ensino. “É importante pensar em como fazer a formação de professores diante destas questões que estão colocadas”, comentou.
A professora da Faculdade de Educação da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), Wania Clemente, acredita que o professor do século XXI está enraizado no presente dinâmico e no processo de constituição de conhecimentos e valores éticos, estéticos e políticos que emergem na realização da prática educativa, presencial ou à distância, a partir de interações recorrentes com o meio. Em sua opinião, o contexto midiatizado do século XXI impõe desafios aos educadores. “É preciso estar atento para refutar as visões simplistas que opõem as múltiplas linguagens à realidade escolar. Também se faz necessário estender e inventar a prática educativa, compreendendo o cruzamento e a aproximação de três vetores: tempo, espaço e velocidade. Por último, é preciso promover mudanças estruturais de ação-reação-ação”, ressaltou.
Neste contexto, afirmou, os diferentes setores da sociedade também têm responsabilidades, como mobilizar o poder público a promover ações concretas, ou seja, políticas públicas, tornando-se co-responsável. Também lhes cabe denunciar formas de controle, que utilizem as tecnologias para concentrar poder e conter a criatividade e a inventividade.
Para Wania, os professores deveriam ser estimulados a explorar as possibilidades de perturbação, transgressão e subversão das identidades existentes. “É preciso estimular, em matéria de identidade, o impensado e o arriscado, o inexplorado e o ambíguo, em vez do consensual e do assegurado, do conhecido e do assentado. Favorecer, enfim, toda experimentação que torne difícil o retorno do ‘eu’ e do ‘nós’ ao idêntico”, finalizou.
A diretora do Departamento de Mídia e Educação da Secretaria Municipal de Educação do Rio de Janeiro, Simone Monteiro, mostrou o resultado de uma pesquisa feita na rede de ensino do município sobre o que é ser professor no século XXI. Dos 201 entrevistados, 74% afirmaram que é um desafio e que é preciso estar aberto ao novo e ressignificar sempre a prática. Cinqüenta por cento afirmaram que ser professor neste século é saber lidar com as novas tecnologias, mídias e as diferentes linguagens do mundo atual.
O lado humano da prática docente também foi lembrado pelos pesquisados. Dez por cento disseram que é pensar no aluno, estar conectado com ele. Outros 9% disseram que é compreender o tempo atual e se relacionar com ele. Mais 3,5% comentaram que é gostar de contato com o ser humano, com as pessoas. Por último, 3% afirmaram que é preciso ter poderes sobrenaturais para lidar com as dificuldades de ser professor nos tempos atuais.
Simone ressaltou que o presente século traz questões que demandam novas atitudes por parte do docente. “A pesquisa mostra uma preocupação do professor em ser plural, dialogar com o novo, estar aberto às novas tecnologias e linguagens, mas sem perder as suas raízes, seus valores, sua vivência. Temos que pensar quais são nossos desafios frente à velocidade, às novas tecnologias, à fragmentação e à turbulência", finalizou.
Texto de Fábio Aranha publicado no site http://www.multirio.rj.gov.br/
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